Um pouco de teoria de Roteiro Audiovisual

09/09/2010 22:35

A forma escrita de qualquer projeto audiovisual (COMPARATO, 1995, p. 19).

    O roteiro também pode ser definido como a elaboração de um argumento constituído de uma trama com diálogos e descrições. Assemelha-se ao romance, visto que utiliza a narração como ferramenta de manipulação de fantasias. No entanto, Comparato não vê o roteirista como um escritor e, sim, como parte integrante do universo da realização do projeto audiovisual. Tanto que faz a seguinte afirmação:

                                                                                                                O que fica bem no papel, fica bem na tela. Um bom roteiro não é garantia de um bom filme, mas sem um bom roteiro não existe com certeza um bom filme (COMPARATO, 1995, p. 20).

     O ato de escrever um roteiro, segundo Syd Field, deve ter um início. Parece óbvio, mas o ponto de partida é sempre o mais difícil e quase sempre traz consigo a indagação: como começo? Ele nos coloca que há algumas opções para um início atraente, que conduza a história ao seu final triunfante, mas destaca uma delas: a idéia.  "... mas uma idéia é só uma idéia: você tem que dramatizar esta idéia, expandi-la, vesti-la, fazê-la dizer o que você quer dizer" (FIELD, s/d, p. 04).

    Enfim, é preciso dizer sobre o que é a história e situá-la, seja através do personagem, do local, ou de um “tique e taque do relógio”.

    Também vale esclarecer que dentro do processo da criação e redação do roteiro é preciso tocar a história em frente. De acordo com as idéias de Rogério Brasil Ferrari em seu work shop “Da idéia a Estréia”, realizado em junho de 2001, na cidade de Santa Maria, é preciso acontecer alguma coisa a cada instante. A narrativa é regulada por um dinamismo que faz de cada momento uma surpresa.

    Mesmo assim, os elementos que ditarão o andamento da história serão a última coisa a compor o pensamento do escritor. Frente a uma folha de papel em branco, a primeira coisa a ser pensada é o assunto.

                                                                                                                                         Antes mesmo de começar a preparar-se para escrever seu roteiro, você deve ter um assunto definido, uma ação e um personagem (FIELD, s/d, p. 05).

    Melhor ainda, antes de escrever o roteiro, Syd Field diz que é preciso ter um assunto “em termos de um personagem que desempenha uma certa linha de ação dramática ou cômica.” (s/d, p. 05)

 

Estrutura básica do roteiro

A estrutura básica do roteiro compreende três elementos fundamentais:

  •           Logos: palavra, discurso, organização verbal;
  •           Pathos: o drama, o conflito, a ação, a vida;
  •           Ethos: o que se quer dizer, o significado da mensagem.

     A construção de um roteiro deve obedecer a um conjunto de eventos que nos levam a um produto final. Não há uma fórmula. A única fórmula exigida é o talento e o trabalho.

    Idéia: o roteiro parte de algo que o autor sinta a necessidade de relatar. É muitas vezes simples, essencial, abstrata, mas “a originalidade é que faz com que um texto seja diferente do outro; é a marca individual do texto” (COMPARATO, 1995, p. 72)

    Conflito: é necessário definir a idéia e concretizá-la através do conflito-matriz (o conflito que vai até o final da história). Deve ser possível realizar o esboço do conflito em apenas um parágrafo: o story line.

    Personagens: são aqueles que viverão o conflito. É essencial o desenvolvimento do caráter do personagem utilizando como pano de fundo, as suas atitudes.

    Ação dramática: Algo deve acontecer entre a motivação do drama e o objetivo final. Sendo assim, a ação dramática resume como o conflito será contado e vivido pelos personagens. Ocorre a construção da estrutura do roteiro, a divisão do enredo em cenas. As cenas, por sua vez, informam o tempo, o espaço e as ações.

    Tempo dramático: é a noção de quanto tempo terá cada cena. Define-se se a ação dramática será lenta ou rápida ou ágil. Agora já é possível colocar no roteiro “as emoções, a personalidade e os problemas de cada personagem: aquilo que há de suceder detalhadamente em cada cena”. (COMPARATO, 1995, p. 27) É o primeiro rascunho do roteiro antes das correções e revisões. Chama-se de primeiro tratamento.

    Unidade dramática: é o roteiro final com todas as correções do diretor, produtor e do próprio roteirista. As cenas são manejadas. “O roteiro final é o guia para a construção do produto audiovisual.” (COMPARATO, 1995, p. 27)

 

Classificação geral do roteiro

            A classificação mais ampla e aceita hoje é dada pela publicação americana Screen Writers Guide:

  •           aventura
  •           comédia
  •           crime
  •           melodrama
  •           drama
  •           outros (terror, fantasia, erótico...)

  

A decupagem de roteiro

     Com uma boa decupagem, ao chegar no set de gravação só falta filmar (FILHO, 2001, p. 203).

    De acordo com Daniel Filho, a decupagem é a informação, para a equipe de produção, de como o diretor pretende contar alguma cena. O produtor executivo e o assistente de direção saberão que a cena tal terá um travelling. O diretor de fotografia conhecerá o posicionamento de câmera e poderá decidir onde serão instaladas as fontes de luz. Com a decupagem, o tempo no set é otimizado pois tudo que possuir a iluminação semelhante na mesma locação poderá ser gravado em seqüência. Não há desperdiço de trabalho.

    O plano de filmagem é um guia para todos os departamentos de produção (FILHO, 2001, p. 203).

    Todos conhecem o que será necessário para a próxima cena. A decupagem coloca todos para trabalhar. Se na próxima cena a personagem abre a porta da geladeira, a equipe da produção compreende que ali devem estar os alimentos do ator. Da mesma forma, se ela abre a porta do próprio quarto de dormir, ali serão necessários pelo menos uma cama e um armário. Vale lembrar: os objetos cênicos dependem intimamente da personalidade da personagem e, portanto, é possível que, no quarto haja apenas um colchão de penas de ganso todo furado, disposto diretamente no solo. Mas isso constará no roteiro e na decupagem.

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